Quem nunca teve uma inquietação rondando a sua cabeça? Mudar de profissão, país, partido ou religião, etc. Parece fácil falar ou escrever, mas a única coisa que o homem consegue mudar sem pestanejar é o canal da TV! Sério, é difícil até imaginar ou projetar grandes mudanças em nossas vidas. O ser humano é por natureza avesso a elas, acredito que na grande maioria das vezes por puro comodismo ou até pela falsa sensação de segurança e estabilidade que o círculo vicioso da rotina nos proporciona, a famosa zona de conforto. Essa característica humana se estende do campo profissional ao sentimental e até ao espiritual. No meu caso, mudar é essencial, acho saudável. Por vezes, tento fugir dessa rotina diária alterando o percurso de casa para o trabalho e vice-versa, abraçando projetos que parecem, em uma primeira análise, ir de encontro ao que eu havia planejado para minha carreira profissional e até coisas mais simples como assistir aquele seriado de TV do qual nunca tive a menor curiosidade ou mudar o corte de cabelo. Tudo com a intenção de dar uma chance ao acaso e quem sabe, ser surpreendido por algo que me mostre a vida sob uma nova perspectiva, que venha trazer novas inspirações.
De certa maneira é isso que encontraremos já nas primeiras páginas de
Trem Noturno para Lisboa, um homem, que tem sua vida guiada por hábitos antigos, certa manhã a caminho da universidade em que leciona vê sua vida seguir rumos inesperados depois de salvar a vida de uma mulher. Na minha opinião o professor de filosofia
Peter Bieri cerca-se de personagens de si mesmo, a fim de desvendar a própria alma ou pelo menos, o livro é um esforço na busca do sentido de sua existência. Uma reflexão sobre a vida, suas escolhas e consequências. É a mão de
Pascal Mercier, pseudônimo de Bieri que assina esta obra, que nos conduz por essa aventura filosófica repleta de personagens cativantes e humanos na mais pura essência.
O professor
Raimund Gregórius fadado a viver uma rotina de línguas ancestrais lecionando Latim e Hebraico no Liceu da fria e melancólica Berna tem seu destino cruzado por uma linda mulher suicida que vem apenas suplantar uma inquietação em sua mente através de uma simples palavra “Português”. O que se segue é a tentativa quase desesperada de Gregórius em busca do auto conhecimento e o mais curioso, é que ele aprenderá sobre sua própria vida desvendando os segredos de Amadeu do Prado médico e escritor lusitano apaixonado pelas palavras, que teve seus textos publicados em um livro, que acaba por obra do destino nas mãos do professor Mundus como é chamado Gregórius pelos seus alunos do Liceu.
É leitura sem pressa, precisa-se calma ao entrar no universo criado por Pascal para que possamos absorver as reflexões de Prado. Chance de experimentar algo muito raro e permitir-se o tempo necessário para digeri-lo com prazer.
O próximo livro da semana é
O Andar do Bêbado de
Leonard Mlodinow.
Gostaria de deixar registrado o lançamento do livro
"A Copa que Interessa" do meu colega
Eduardo Menezes que acontecerá na quarta-feira que vem aqui em porto Alegre, no Caminito (Rua Padre Chagas, 318), às 18h30min e o preço do Guia no lançamento será 15 reais. Certamente
"A Copa que Interessa"estará aqui na coluna
O Livro da Semana.
FICHA TÉCNICA
Título: Trem Noturno para Lisboa |
Título Original: |
Subtítulo: |
Autor: |
Tradução: |
Editora: Record |
Assunto: Literatura Estrangeira-Romances |
ISBN: 8501083488 |
Idioma: Português |
Tipo de Capa: BROCHURA |
Edição: 1 |
Número de Páginas: 462 |
SINOPSE:
Fenômeno editorial na Alemanha ? onde ultrapassou a marca de dois milhões e meio de exemplares vendidos e ficou anos nas listas dos principais veículos ?, TREM NOTURNO PARA LISBOA extrapolou as fronteiras da literatura. Terceiro romance de Pascal Mercier, na verdade o professor de filosofia Peter Bieri, ganhou ares de expressão idiomática, usada para designar mudanças de vida. Mercier cria um personagem emblemático, o português Amadeu do Prado. Herói literário com o único objetivo de retratar seu criador. Invenção tão perfeita, que, nos últimos anos, muitos estrangeiros se deslocam para terras lusitanas em busca do escritor fictício.
Tudo começa numa manhã chuvosa, quando Raimundo Gregorius, um homem culto, professor de línguas clássicas, impede que uma mulher se jogue de uma ponte em Berna. O professor se encanta com os sons do balbucio incoerente da suicida. Ao questionar que língua é aquela, fica sabendo se tratar do português. Hipnotizado pela musicalidade do idioma, acaba por comprar um livro do autor português Amadeu Inácio de Almeida Prado, intitulado Um ourives das palavras. Uma reflexão sobre as múltiplas experiências da vida: solidão, finitude e morte, amizade, amor e lealdade.
Fascinado por Prado, Gregorius tenta compreender o misterioso escritor, um médico que morreu 30 anos antes. A obsessão o faz largar sua rotina bem organizada e pegar o trem noturno para Lisboa. Numa descoberta do outro que acaba por ser uma descoberta de si próprio. Ao longo das investigações que o levam pelas vielas da capital portuguesa, ele encontra pessoas que conheceram Prado. E constrói a imagem de um médico e poeta admirável, que lutou contra Salazar. Gozou de enorme popularidade até salvar a vida de um oficial da polícia secreta. Depois disso, as pessoas que o veneravam passaram a evitá-lo. Na tentativa de se redimir, trabalhou para a oposição clandestina.
Gregorius se descobre antítese de Prado, um homem inquieto, capaz de desafiar os pontos de vista ortodoxos. Agora, através de sua influência póstuma, o prudente professor é impulsionado a mudar. Mas o que significa conhecer outra pessoa, compreender outra vida? O que significa para o conhecimento de nós mesmos? É possível fugir da rotina? Este romance é uma epopeia multifacetada de uma viagem através da Europa e do nosso pensar e sentir.